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A teologia
liberal
e suas
implicações para a fé bíblica
Do jeito que as coisas andam em
nossos dias, precisamos urgentemente nos libertar da teologia liberal. É
espantoso o crescente número de livros (inclusive publicados por editoras
evangélicas) que esboçam os ensinamentos deste tipo de teologia ou tecem
comentários favoráveis. Embora esta teologia tenha nascido com os protestantes,
hoje, porém, seus maiores expoentes são os católicos romanos.
A libertação
da teologia liberal não só é necessária como também é vital para a Igreja
brasileira, ameaçada pelo secularismo e pelo liberalismo teológico corrosivo.
Apesar das
motivações iniciais dos modernistas, suas ideias, no entanto, representaram
grave ameaça à ortodoxia, fato já comprovado pela história. O movimento gerou
ensinamentos que dividiram quase todas as denominações históricas na primeira
metade deste século. Ao menosprezar a importância da doutrina, o modernismo
abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral e a
incredulidade descarada. Atualmente, a maioria dos evangélicos tende a
compreender a palavra “modernismo” como uma negação completa da fé. Por isso,
com facilidade esquecemos que o objetivo dos primeiros modernistas era apenas
tornar a igreja mais “moderna”, mais unificada, mais relevante e mais aceitável
em uma era caracterizada pela modernidade.
Mas o que
caracterizaria um teólogo liberal? O verbete sobre o “protestantismo liberal”
do Novo Dicionário de Teologia, editado por Alan Richardson e John Bowden, nos
traz uma boa noção do termo. Vejamos três destaques de elementos do liberalismo
teológico:
1- É
receptivo à ciência, às artes e estudos humanos contemporâneos. Procura a
verdade onde quer que se encontre. Para o liberalismo não existe a descontinuidade
entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e
a revelação. A verdade deve ser encontrada na experiência guiada mais pela
razão do que pela tradição e autoridade e mostra mais abertura ao ecumenismo;
2- Tem-se
mostrado simpatia para com o uso dos cânones da historiografia para interpretar
os textos sagrados. A Bíblia é considerada documento humano, cuja validade
principal está em registrar a experiência de pessoas abertas para a presença de
Deus. Sua tarefa contínua é interpretar a Bíblia, à luz de uma cosmovisão
contemporânea e da melhor pesquisa histórica, e, ao mesmo tempo, interpretar a
sociedade, à luz da narrativa evangélica;
3 - Os
liberais ressaltam as implicações éticas do cristianismo. O cristianismo não é
um dogma a ser crido, mas um modo de viver e conviver, um caminho de vida.
Mostraram-se inclinados a ter uma visão otimista da mudança e acreditar que o
mal é mais uma ignorância. Por ter vários atributos até divergentes, o liberal
causa alergia para uns e para outros é motivo de certa satisfação, por ser
considerado portador de uma mente aberta para o diálogo com posições
contrárias.
As grandes
batalhas causadas pelo liberalismo foram travadas dentro das grandes
denominações históricas. Muitos pastores que haviam saído dos EUA no intuito de
se pós-graduarem nas grandes universidades teológicas da Europa,
especificamente na Alemanha, em que a teologia liberal abraçava as teorias
destrutivas da Alta Crítica produzida pelo racionalismo humanista, acabaram
retornando para os EUA completamente descrentes nos fundamentos do cristianismo
histórico. Os liberais, devido à tolerância inicial dos fiéis para com a sã
doutrina, tiveram tempo de fermentar as grandes denominações e conseguiram
tomar para si os grandes seminários, rádios e igrejas, de modo que não sobrou
outra alternativa para grande parte dos fundamentalistas senão sair dessas
denominações e se organizar em novas denominações. Daí surgiram os Batistas
Regulares (que formaram a Associação Geral das Igrejas Batistas Regulares, em
1932), os Batistas Independentes, as Igrejas Bíblicas, as Igrejas Cristãs
Evangélicas, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (em 1936, que mudou seu
nome para Igreja Presbiteriana Ortodoxa), a Igreja Presbiteriana Bíblica (em
1938), a Associação Batista Conservadora dos Estados Unidos (em 1947), as
Igrejas Fundamentalistas Independentes dos Estados Unidos (em 1930) e muitas
outras denominações que existem ainda hoje.
Podemos dizer
que algumas das características do cristianismo ortodoxo se baseiam nos
seguintes pontos:
• Manter
fidelidade incondicional à Bíblia, que é inerrante, infalível e verbalmente
inspirada;
• Acreditar
que o que a Bíblia diz é verdade (verdade absoluta, ou seja, verdade sempre, em
todo lugar e momento);
• Julgar
todas as coisas pela Bíblia e ser julgado unicamente por ela;
• Afirmar as
verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade, a
encarnação, o nascimento virginal, o sacrifício expiatório, a ressurreição
física, a ascensão ao céu, a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo, o novo
nascimento mediante a regeneração do Espírito Santo, a ressurreição dos santos
para a vida eterna, a ressurreição dos ímpios para o juízo final e a morte
eterna e a comunhão dos santos, que são o Corpo de Cristo.
• Ser fiel à
fé e procurar anunciá-la a toda criatura;
• Denunciar e
se separar de toda negativa eclesiástica dessa fé, de todo compromisso com o
erro e de todo tipo de apostasia;
• Batalhar
firmemente pela fé que foi concedida aos santos.
Contudo, o
liberalismo, em sua apostasia, nega a validade de quase todos os fundamentos da
fé, como, por exemplo, a inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, a
necessidade da morte expiatória de Cristo, seu nascimento virginal e sua
ressurreição. Chegam até mesmo a negar que existiu realmente o Jesus narrado
nas Escrituras. A doutrina escatológica liberal se baseia no universalismo
(todas as pessoas serão salvas um dia e Deus vai dar um jeito até na situação
do diabo) e, conseqüentemente, para eles, não existe inferno e muito menos o
conceito de pecado. O liberalismo é um sistema racionalista que só aceita o que
pode ser “provado” cientificamente pelos próprios conhecimentos falíveis,
fragmentados e limitados do homem.
Os primeiros
estudiosos que aplicaram o método histórico-crítico sem critérios ao estudo das
Escrituras negavam que a Bíblia fosse, de fato, a Palavra de Deus inspirada.
Segundo eles, a Bíblia continha apenas a Palavra de Deus.
O liberalismo
teológico tem procurado embutir no cristianismo uma roupagem moderna: pegam as
últimas idéias seculares e, sorrateiramente, espalham no mundo cristão. J.G.
Machem, em seu livro Cristianismo e liberalismo, trata deste assunto com
maestria. Na contracapa, podemos ver uma pequena comparação entre o
cristianismo e o liberalismo: “O liberalismo representa a fé na humanidade, ao
passo que o cristianismo representa a fé em Deus. O primeiro não é sobrenatural, o último é
absolutamente sobrenatural. Um é a religião da moralidade pessoal e social, o
outro, contudo, é a religião do socorro divino. Enquanto um tropeça sobre a
‘rocha de escândalo’, o outro defende a singularidade de Jesus Cristo. Um é
inimigo da doutrina, ao passo que o outro se gloria nas verdades imutáveis que
repousam no próprio caráter e autoridade de Deus”.
Muitos, por
buscarem aceitação teológica acadêmica, têm-se comprometido fatalmente, pois,
na prática, os liberais tentam remover do cristianismo todas as coisas que não
podem ser autenticadas pela ciência. Sempre que a ciência contradiz a Bíblia, a
ciência é preferida e a Bíblia, desacreditada.
Hoje, a
animosidade que demonstram para com a Bíblia tem caracterizado aqueles que
crêem que ela é literalmente a Palavra de Deus e inerrante (sem erros em seus
originais) como “fundamentalistas”.1
Ora, podemos por acaso negociar o inegociável?
Os liberais
acusam os evangélicos de transformar a Bíblia em um “papa de papel”, ou seja,
em um ídolo. Com isso, culpam os evangélicos de bibliolatria.2 Estamos cientes de que tem havido alguns
exageros por parte de alguns fundamentalistas evangélicos, mas a verdade é que
os “eruditos” liberais têm-se mostrado tão exagerados quanto muitos do que eles
denominam de fundamentalistas. Teoricamente falando, a maioria dos liberais
acredita em Deus, supondo que Ele pode intervir na história da humanidade,
porém, na prática, e com freqüência, mostram-se muito mais deístas.3 Normalmente, os liberais também favorecem o
“relativismo”, ou seja, difundem que no campo da verdade não há absolutos.
Segundo este raciocínio, se não há verdades absolutas, então, as verdades da
Bíblia (que são absolutas) são relativas, logo, não podem ser a Palavra de
Deus. Tendo rejeitado a Bíblia como a infalível Palavra de Deus e aceitado a
idéia de que tudo está fluindo, o teólogo liberal afirma que não é segura
qualquer idéia permanente a respeito de Deus e da verdade teológica.
Levando o
pensamento existencialista às últimas conseqüências, conclui-se que: se
quisermos que a Bíblia tenha algum valor para a modernidade e fale ao homem
moderno, temos de criar uma teologia para cada cultura, para cada contexto,
onde nenhum ensino é absoluto, mas relativo, variando conforme o contexto
sociocultural. Obviamente, tal pensamento possui fundamento em alguns pontos,
mas daí ao radicalismo de pregar que nada é absoluto, isso já extrapola e fere
diversos princípios bíblicos.
Raízes
O liberalismo
teológico começou a florescer de forma sistematizada devido à influência do
racionalismo de Descartes e Spinoza, nos séculos 17 e 18, que redundou no
iluminismo.4 O liberalismo opunha-se ao
racionalismo extremado do iluminismo.
Na verdade,
quando a igreja começa a flertar com o liberalismo e se render aos seus
interesses, ela perde sua autoridade e deixa de ser embaixadora de Deus. A
história tem provado que onde o liberalismo teológico chega a Igreja morre.
Este é um aviso solene que deve estar sempre trombeteando em nossos ouvidos.
A baixa
crítica
Conforme
Gleason L. Archer Jr, “a ‘baixa crítica’ ou crítica textual se preocupa com a tarefa
de restaurar o texto original na base das cópias imperfeitas que chegaram até
nós. Procura selecionar as evidências oferecidas pelas variações, ou leituras
diferentes, quando há falta de acordo entre os manuscritos sobreviventes, e
pela aplicação de um método científico chegar àquilo que era mais provavelmente
a expressão exata empregada pelo autor original”.5
A alta
crítica
J. G.
Eichhorn, um racionalista germânico dos fins do século 18, foi o primeiro a
aplicar o termo “alta crítica” ao estudo da Bíblia. E, por esse motivo, ele tem
sido chamado de “o pai da crítica do Antigo Testamento”. Segundo R. N. Champlin, “a ‘alta crítica’ aponta para
o exame crítico da Bíblia, envolvendo qualquer coisa que vá além do próprio
texto bíblico, isto é, questões que digam respeito à autoria, à data, à forma
de composição, à integridade, à proveniência, às idéias envolvidas, às
doutrinas ensinadas, etc. A alta crítica pode ser positiva ou negativa em sua
abordagem, ou pode misturar ambos os pontos de vista”.6 Mas o que temos visto na prática é que esta
forma de crítica tem negado as doutrinas centrais da fé cristã, em nome da
ciência, da modernidade e da razão. O que fica evidente é que alguns críticos
partem com o intuito de desacreditar a Bíblia, devido a alguns pressupostos
naturalistas, chegando ao cúmulo de dizer que a Igreja inventou Jesus.
Conforme
Norman Geisler “a alta crítica pode ser dividida em negativa (destrutiva) e
positiva (construtiva). A crítica negativa, como o próprio nome sugere, nega a
autenticidade de grande parte dos registros bíblicos. Essa abordagem, em geral,
emprega uma pressuposição anti-sobrenatural”.7
Métodos
aplicados a qualquer tipo de literatura passaram a ser aplicados também à
Bíblia, com grandes doses de ceticismo (no que diz respeito à validade
histórica e à integridade de seus livros), com invenções de entusiastas que
tinham pouca base nos fatos históricos. Assim, onde vemos nas narrativas da
Bíblia fatos sobrenaturais esta teologia lhes confere interpretações naturais,
retirando da Palavra de Deus todas as intervenções miraculosas. Claramente é
impróprio, ou mesmo blasfematório, nos colocarmos como juízes sobre a Bíblia.
Penosamente,
a “alta crítica” tem empregado uma metodologia faltosa, caindo em alguns
pressupostos questionáveis. E, devido aos seus resultados, ultimamente vem
sendo descrita como “alta crítica destrutiva”.
(para melhor compreensão, veja o quadro comparativo acima)8
C. S. Lewis,
sem dúvida o apologista cristão mais influente do século 20, em seu artigo “A
teologia moderna e a crítica da Bíblia”, tece os seguintes comentários:
“Em primeiro lugar, o que quer que esses
homens possam ser como críticos da Bíblia, desconfio deles como críticos9 [...] Se tal homem chega e diz que alguma
coisa, em um dos evangelhos, é lendária ou romântica, então quero saber quantas
lendas e romances ele já leu, o quanto está desenvolvido o seu gosto literário
para poder detectar lendas e romances, e não quantos anos ele já passou
estudando aquele evangelho1 0 [...] os críticos falam apenas como homens;
homens obviamente influenciados pelo espírito da época em que cresceram,
espírito esse talvez insuficientemente crítico quanto às suas próprias
conclusões1 1 [...] Os firmes resultados da erudição moderna, na sua tentativa de
descobrir por quais motivos algum livro antigo foi escrito, segundo podemos
facilmente concluir, só são ‘firmes’ porque as pessoas que sabiam dos fatos já
faleceram, e não podem desdizer o que os críticos asseguram com tanta
autoconfiança”.1 2
Prove e veja
Na
Universidade de Chicago, Divinity School, em cada ano eles têm o que chamam de
“Dia Batista”, quando cada aluno deve trazer um prato de comida e ocorre um
piquenique no gramado. Nesse dia, a escola sempre convida uma das grandes
mentes da literatura no meio educacional teológico para palestrar sobre algum
assunto relacionado ao ambiente acadêmico.
Certo ano, o
convidado foi Paul Tillich,1 3 que discursou, durante duas horas e meia, no
intuito de provar que a ressurreição de Jesus era falsa. Questionou estudiosos
e livros e concluiu que, a partir do momento que não existiam provas históricas
da ressurreição, a tradição religiosa da igreja caía por terra, porque estava
baseada num relacionamento com um Jesus que, de fato, segundo ele, nunca havia
ressurgido literalmente dos mortos.
Ao concluir
sua teoria, Tillich perguntou à platéia se havia alguma pergunta, algum
questionamento. Depois de uns trinta segundos, um senhor negro, de cabelos
brancos, se levantou no fundo do auditório: “Dr Tillich, eu tenho uma pergunta,
ele disse, enquanto todos os olhos se voltavam para ele. Colocou a mão na sua
sacola, pegou uma maçã e começou a comer... Dr Tillich... crunch, munch...
minha pergunta é muito simples... crunch, munch... Eu nunca li tantos livros
como o senhor leu... crunch, munch... e também não posso recitar as Escrituras
no original grego... crunch, munch... Não sei nada sobre Niebuhr e Heidegger...
crunch, munch... [e ele acabou de comer a maçã] Mas tudo o que eu gostaria de
saber é: Essa maçã que eu acabei de comer... estava doce ou azeda?
“Tillich
parou por um momento e respondeu com todo o estilo de um estudioso: ‘Eu não
tenho possibilidades de responder essa questão, pois não provei a sua maçã’.
“O senhor de
cabelos brancos jogou o que restou da maçã dentro do saco de papel, olhou para
o Dr. Tillich e disse calmamente: ‘O senhor também nunca provou do meu
Jesus, e como ousa afirmar o que está
dizendo?”. Nesse momento, mais de mil estudantes que estavam participando do
evento não puderam se conter. O auditório se ergueu em aplausos. Dr. Tillich
agradeceu a platéia e, rapidamente, deixou o palco”.
É essa a
diferença!
É fundamental
considerar que tudo o que engloba a fé genuinamente cristã está amparado em um
relacionamento experimental (prático) com Deus. Sem esse pré-requisito, ninguém
pode seriamente afirmar ser um cristão. Seria muito bom se os críticos se
atrevessem a experimentar este relacionamento antes de tecerem suas conjeturas.
Se assim fosse, certamente se lhes abriria um novo horizonte para suas
proposições e, quem sabe, entenderiam que o sobrenatural não é uma brecha da
lei natural, mas, sim, uma revelação da lei espiritual.
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Notas
1 O
fundamentalismo foi um movimento surgido nos Estados Unidos durante e
imediatamente após a 1ª Guerra Mundial, a fim de reafirmar o cristianismo
protestante ortodoxo e defendê-lo contra os desafios da teologia liberal, da
alta crítica alemã, do darwinismo e de outros pensamentos considerados danosos
para o cristianismo.
2 Adoração à
Bíblia.
3 Segundo a
comparação clássica entre Deus e o fabricante de um relógio, Deus, no
princípio, deu corda ao relógio do mundo de uma vez para sempre, de modo que
ele agora continua com a história mundial sem a necessidade de envolvimento da
parte de Deus.
4 O
Iluminismo enfatizava a razão e a independência e promovia uma desconfiança
acentuada da autoridade. A verdade deveria ser obtida por meio da razão,
observação e experiência. O movimento foi dominado pelo anti-sobrenaturalismo e
pelo pluralismo religioso.
5 ARCHER,
Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? Edições Vida Nova, p.54.
6 CHAMPLIN,
R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol 1. Candeia, p. 122.
7 GEISLER,
Norman. Enciclopédia de Apologética. Editora Vida, p.113.
8 Ibid. p.
116.
9 MCDOWELL,
Josh. Evidência que exige um veredicto. Vol 2. Editora Candeia, p.522.
10 Ibid.,
p.526.
11 Ibid.,
p.526.
12 Ibid.,
p.528.
13 Paul
Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886, em Starzeddel, na Prússia Oriental,
perto de Guben. Foi um teólogo-filósofo e representante do existencialismo
religioso.
* matéria
colhida na revista Defesa da Fé.
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